Desvendando a Propaganda Popular
- GpSankofa
- 17 de abr.
- 4 min de leitura
"A propaganda política busca imbuir o povo, como um todo, com uma doutrina... A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião". — HITLER, Adolf. 1926.

Seres humanos, em sua essência, carregam o peso de ser sociais. A comunidade pode salvar na mesma medida que pode destruir. Parte de nós acredita no poder do povo como um agente de mudança. A outra parte não apenas acredita, mas também manipula, doutrina, ameaça e se impõe sobre aqueles que não têm voz. Às vezes, com força. Outras vezes, com palavras bonitas que soam como progresso, mas que reverberam sobre os periféricos, os que passam fome. Um equilíbrio perfeito, que se sustenta na ideia de “sem nós, há caos”, enquanto a fome persiste e a desolação avança. Para quem vive nas sombras, o caos nunca acabou. Eles sabem. Mas a propaganda é bem feita. Porque a propaganda é a parte mais importante de um governo totalitário.
"Brasil, ame-o ou deixe-o." Ditadura Militar, 1964 - 1985
As propagandas populares são ferramentas de controle social desde muito antes da internet. O século XX foi marcado pela sistematização dos meios de comunicação para consumo de massa e pela ascensão da propaganda política. Adolf Hitler (Mein Kampf, p 171), escreveu: "A capacidade de compreensão do povo é muito limitada, mas, em compensação, a capacidade de esquecer é grande. Assim sendo, a propaganda deve-se restringir a poucos pontos. E esses deverão ser valorizados como estribilhos, até que o último indivíduo consiga saber exatamente o que representa esse estribilho. Sacrificando esse princípio em favor da variedade, provoca-se uma atividade dispersiva, pois a multidão não consegue nem digerir nem guardar o assunto tratado. O resultado é uma diminuição de eficiência e consequentemente o esquecimento por parte das massas.". Hitler compreendia que a linguagem utilizada deveria ser a mais simples possível, pois, quanto mais simplificada fosse a mensagem, maior o número de pessoas que ela atingiria.
O nazismo soube combinar de forma maestral todos os elementos de comunicação da época em prol de seu movimento. Conforme destaca Diehl (1996), os instrumentos utilizados foram o rádio, cinema, teatro, literatura e poesia, artes plásticas, imprensa, música, cartazes, o corpo humano, eventos e arquitetura. No centro da propaganda nazista estava o culto ao Führer, a construção de um mito que vinculava Hitler à unificação alemã, à recuperação econômica e à restauração do prestígio do país.
A estratégia de manipulação não se limitou ao passado. A história segue um padrão: uma população fragilizada, eventos políticos escandalosos, descontentamento social. A utilização da emoção acima da racionalidade é uma estratégia amplamente estudada por Noam Chomsky e aplicada recorrentemente por líderes populistas. A disseminação de fake news e a exploração da vulnerabilidade da população são táticas contemporâneas eficazes, potencializadas pelo uso da internet.
"Sem dúvida, os meios tradicionais de comunicação, rádio, televisão e mídia impressa, ainda são os melhores meios de transmitir mensagens partidárias eficientemente. Porém, na última década, surgiu com força a internet, que hoje também pode ser considerada um importante meio de comunicação de massa. Este novo meio oferece vantagens como a possibilidade de interatividade com o eleitor, a falta de controle e fiscalização sobre conteúdos e, cada vez mais, o grande alcance sobre diferentes classes sociais." (MAROSIN, 2010, p. 34)
No Brasil, essa dinâmica não é diferente. A direita política soube explorar o medo e a violência como elementos centrais de sua narrativa, alimentando-se da insegurança e reforçando estereótipos sobre o crime e a criminalidade. Em paralelo, comparações com outros países "mais seguros" são usadas como forma de reforçar a ideia de um Brasil em colapso, uma tática eficaz para criar um senso de urgência e justificar medidas autoritárias.
O uso de slogans e jingles políticos também desempenha um papel crucial na fixação de ideias. Um slogan ou frase de efeito é uma construção discursiva de fácil memorização usada para persuadir e influenciar. Essa estratégia, consolidada ao longo do século XX, continua sendo uma das formas mais eficazes de mobilizar a população.
"Só Deus me tira da cadeira presidencial." Jair Bolsonaro, 2021
E, se há uma figura superior existente, algo que resguarde o povo mesmo em meio a instrumentos de manipulação tão extremos, ela se movimenta. Porque, afinal, mesmo diante do totalitarismo, a resistência existe. Ela se entranha entre a mídia, a arte, o suor e o sangue daqueles que sofrem as consequências de certos discursos. Enquanto o povo existir, a resistência se manterá viva. Mesmo em tempos difíceis. Mesmo que nada pareça funcionar.
"Quando a ditadura é um fato, a revolução se torna um direito."Victor Hugo, 1874, O Ano Terrível.
CONTINUA EM BREVE
Referências:
ENCYCLOPEDIA UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. Nazi propaganda. Disponível em: https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-propaganda.
INSTITUTO FRANKLIN DELANO. 10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação. Disponível em: https://www.ifd.com.br/publicidade-e-propaganda/10-estrategias-mais-comuns-de-manipulacao-em-massa-atraves-dos-meios-de-comunicacao/.
MARINHA DO BRASIL. Repositório Institucional da Marinha. Disponível em: https://repositorio.mar.mil.br/handle/ripcmb/844977.
MAROSIN, Jônatas. A influência da propaganda nazista no Marketing político atual. 2010.
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. Propaganda política e ideológica. Disponível em: https://pcb.org.br/portal2/1435.
PFEFFER, Renato Somberg; GEBER, Cláudia Osna. Judaísmo: a identidade que sobreviveu a propaganda nazista. Vozes e Diálogo, v. 16, n. 01, 2017.
SILVA, Thiago. Bolsonaro e COVID-19: Desmascarando a Informação. Disponível em: https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/Edupii/fake_bolsonaro_e_a_covid-19.pdf.
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