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  • Desvendando a Literatura: a palavra como resistência 

    Se a palavra foi usada para doutrinar , também foi usada para libertar . Onde o discurso autoritário se impõe, a literatura floresce — mesmo nas rachaduras de uma sociedade esfacelada. Não sei você, mas, se pudesse, passaria a vida inteira escrevendo. Porque, de fato, é mais fácil compreender aquilo que nos atinge no mundo que criamos com palavras muito bem organizadas. O que nos fere, nos angustia, nos aprisiona.  A literatura nunca deixa de contar um pouco de nós; ela sempre tem algo a dizer sobre as mazelas e as belezas do mundo. “Resistência é um conceito originariamente ético, e não estético.” (BOSI, 1996) A resistência, por sua vez, não é uma representação; é uma atitude. Um poderoso “não” lançado sobre os que nos dominam. Fruto de um existencialismo crescente do século XX, a resistência prevê o popular, prevê aqueles que são colocados à margem da sociedade. Contudo, o “não” sequer foi escutado, mesmo na força bruta. É aí que a arte entra: na descrição dessa dor humana, dessa dor popular. A narrativa adquire, a partir daqui, um valor especialmente ético.  A escrita resistente não apenas repete o que a literatura clássica já nos contou; agora ela reconta, desdobra, cria incômodo, busca no âmago de cada leitor aquela centelha de existencialismo que questiona o que somos e para que viemos, em busca da ação: resistência. “É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como o lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente.” (BOSI, 1996) A literatura, quando genuína, não abre margem para a passividade. Ela provém de uma necessidade, um direito , de humanizar. Dizem que a arte imita a vida; penso que o contrário é o mais provável. A literatura tem o poder de nos influenciar, de modificar o que nos parece imutável. As palavras possuem poder.   Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Chico Buarque, Ailton Krenak, todos eles mostram que o que se escreve não é meramente estético, que cada palavra abraça a contemporaneidade em sua forma mais pura, em cada vez que levantaram a voz e o “não” foi dito da forma mais bem estruturada possível para aqueles que nos oprimem.  Ainda mais por isso, caro leitor, jamais deixarei de escrever. Mesmo com os dedos puídos, o peito cansado em angústia. Por mim e por aqueles que não podem escrever, estarei lá. Direi o não à minha maneira. Se nos consumimos em meio a essa sociedade corrompida, eles sentirão as consequências. “Eu tenho uma mensagem para o presidente Snow — digo.[...] — Você pode nos torturar e nos bombardear e incendiar nossos distritos até virarem cinzas. Mas vejam só — digo, erguendo os braços para que vejam que continuo viva, que sou mais do que apenas um símbolo. — O fogo é contagioso! Se nós queimarmos, você queimará conosco!”  ( COLLINS, 2011, p. 112 ) Por: Ana Luísa Corloud REFERÊNCIAS  BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. Itinerários–revista de literatura , 1996. COLLINS, Suzanne. A esperança . Tradução de Alexandre D'Elia. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2011. MACIEL, Gabriela Carneiro.  Literatura como porta-voz da resistência: narrativa e poesia de Carolina de Jesus. Sententia , 2022. Disponível em:   https://sententia.com.br/gabrielacarneiromaciel/2022/narrativa-poesia-resistencia-carolina-jesus/ . Acesso em: 27 abr. 2025. COLLINS, A esperança. Rocco Jovens Leitores: Rio de Janeiro, 2011.

  • Desvendando a Propaganda Popular

    "A propaganda política busca imbuir o povo, como um todo, com uma doutrina... A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião". — HITLER, Adolf. 1926. Seres humanos, em sua essência, carregam o peso de ser sociais. A comunidade pode salvar na mesma medida que pode destruir. Parte de nós acredita no poder do povo como um agente de mudança. A outra parte não apenas acredita, mas também manipula, doutrina, ameaça e se impõe sobre aqueles que não têm voz. Às vezes, com força. Outras vezes, com palavras bonitas que soam como progresso, mas que reverberam sobre os periféricos, os que passam fome. Um equilíbrio perfeito, que se sustenta na ideia de “sem nós, há caos”, enquanto a fome persiste e a desolação avança. Para quem vive nas sombras, o caos nunca acabou. Eles sabem. Mas a propaganda é bem feita. Porque a propaganda é a parte mais importante de um governo totalitário. "Brasil, ame-o ou deixe-o." Ditadura Militar, 1964 - 1985 As propagandas populares são ferramentas de controle social desde muito antes da internet. O século XX foi marcado pela sistematização dos meios de comunicação para consumo de massa e pela ascensão da propaganda política. Adolf Hitler ( Mein Kampf, p 171) , escreveu: "A capacidade de compreensão do povo é muito limitada, mas, em compensação, a capacidade de esquecer é grande. Assim sendo, a propaganda deve-se restringir a poucos pontos. E esses deverão ser valorizados como estribilhos, até que o último indivíduo consiga saber exatamente o que representa esse estribilho. Sacrificando esse princípio em favor da variedade, provoca-se uma atividade dispersiva, pois a multidão não consegue nem digerir nem guardar o assunto tratado. O resultado é uma diminuição de eficiência e consequentemente o esquecimento por parte das massas.". Hitler compreendia que a linguagem utilizada deveria ser a mais simples possível, pois, quanto mais simplificada fosse a mensagem, maior o número de pessoas que ela atingiria. O nazismo soube combinar de forma magistral todos os elementos de comunicação da época em prol de seu movimento. Conforme destaca Diehl (1996), os instrumentos utilizados foram o rádio, cinema, teatro, literatura e poesia, artes plásticas, imprensa, música, cartazes, o corpo humano, eventos e arquitetura. No centro da propaganda nazista estava o culto ao Führer, a construção de um mito que vinculava Hitler à unificação alemã, à recuperação econômica e à restauração do prestígio do país. A estratégia de manipulação não se limitou ao passado. A história segue um padrão: uma população fragilizada, eventos políticos escandalosos, descontentamento social. A utilização da emoção acima da racionalidade é uma estratégia amplamente estudada por Noam Chomsky e aplicada recorrentemente por líderes populistas. A disseminação de fake news e a exploração da vulnerabilidade da população são táticas contemporâneas eficazes, potencializadas pelo uso da internet. " Sem dúvida, os meios tradicionais de comunicação, rádio, televisão e mídia impressa, ainda são os melhores meios de transmitir mensagens partidárias eficientemente. Porém, na última década, surgiu com força a internet, que hoje também pode ser considerada um importante meio de comunicação de massa. Este novo meio oferece vantagens como a possibilidade de interatividade com o eleitor, a falta de controle e fiscalização sobre conteúdos e, cada vez mais, o grande alcance sobre diferentes classes sociais."  (MAROSIN, 2010, p. 34) No Brasil, essa dinâmica não é diferente. A extrema direita soube explorar o medo e a violência como elementos centrais de sua narrativa, alimentando-se da insegurança e reforçando estereótipos sobre o crime e a criminalidade. Em paralelo, comparações com outros países "mais seguros" são usadas como forma de reforçar a ideia de um Brasil em colapso, uma tática eficaz para criar um senso de urgência e justificar medidas autoritárias. O uso de slogans e jingles políticos também desempenha um papel crucial na fixação de ideias. Um slogan ou frase de efeito é uma construção discursiva de fácil memorização usada para persuadir e influenciar. Essa estratégia, consolidada ao longo do século XX, continua sendo uma das formas mais eficazes de mobilizar a população. "Só Deus me tira da cadeira presidencial."   Jair Bolsonaro, 2021 E, se há uma figura superior existente, algo que resguarde o povo mesmo em meio a instrumentos de manipulação tão extremos, ela se movimenta. Porque, afinal, mesmo diante do totalitarismo, a resistência existe. Ela se entranha entre a mídia, a arte, o suor e o sangue daqueles que sofrem as consequências de certos discursos. Enquanto o povo existir, a resistência se manterá viva. Mesmo em tempos difíceis. Mesmo que nada pareça funcionar. "Quando a ditadura é um fato, a revolução se torna um direito."Victor Hugo, 1874, O Ano Terrível.  CONTINUA EM BREVE Referências:  ENCYCLOPEDIA UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. Nazi propaganda.  Disponível em:   https://encyclopedia.ushmm.org/content/pt-br/article/nazi-propaganda . INSTITUTO FRANKLIN DELANO. 10 estratégias mais comuns de manipulação em massa através dos meios de comunicação.  Disponível em:   https://www.ifd.com.br/publicidade-e-propaganda/10-estrategias-mais-comuns-de-manipulacao-em-massa-atraves-dos-meios-de-comunicacao/ . MARINHA DO BRASIL. Repositório Institucional da Marinha.  Disponível em:   https://repositorio.mar.mil.br/handle/ripcmb/844977 . MAROSIN, Jônatas. A influência da propaganda nazista no Marketing político atual.  2010. PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO. Propaganda política e ideológica.  Disponível em:   https://pcb.org.br/portal2/1435 . PFEFFER, Renato Somberg; GEBER, Cláudia Osna. Judaísmo: a identidade que sobreviveu a propaganda nazista.  Vozes e Diálogo, v. 16, n. 01, 2017. SILVA, Thiago. Bolsonaro e COVID-19: Desmascarando a Informação.  Disponível em:   https://ufpi.br/arquivos_download/arquivos/EDUFPI/Edupii/fake_bolsonaro_e_a_covid-19.pdf .

  • Desvendando o Slam 

    Poesia   (...) Que tal? Sem saber se amanhã vai ter chão pra pisar e prosseguir caminhando sempre em frente sem olhar pra trás. Na fé que esse mundo vai ser justo e bom pra viver em paz, sem sinhozinho, sem capataz. Sem pau, nem cachorro correndo atrás, geral na calada, Sem tiro, sem mágoa, sem solidão. Pai desconhecido, escola vazia, sem choro nem vela ou caixão Sem fome ou intriga da oposição.(...) — Roberta Estrela D’Alva, em “Ampara o Desamparo”. São Paulo: 2004.  Anteriormente em Desvendando a Poesia:  “Hoje, marginal e marginalizada, a poesia nasce em diversos lugares, de diversas formas. Na batalha de slam, no caderninho surrado de uma aluna da sétima série, no sorriso que a mãe dá para seu filho que soltou suas primeiras palavras, no reconhecer em cada olhar uma história inexplorada.  A poesia é resistência, mas também é descanso . A poesia é o suspiro trêmulo que o poeta dá em meio ao caos que é a vida”.  E então, o suspiro escapou pelos lábios entreabertos do poeta. As mãos trêmulas seguravam o papel amassado, marcado por linhas de que fora dobrado e desdobrado inúmeras vezes, uma letra corrida escrita em versos com algumas palavras riscadas. O poeta apertou os lábios numa linha tensa, enfiou o papel no bolso da calça jeans surrada e ergueu os olhos para o letreiro neon. Green Mill Cocktail Lounge. Reuniu coragem e entrou, esperando que essa noite mudasse sua vida. Chicago, 1986. Resistência em meio ao caos pode ser uma boa definição para o slam. Nascido em Chicago nos anos 80, idealizado por Marc Smith, o slam rapidamente se entrelaçou a movimentos como o hip hop , exatamente por ter, literalmente, caído na boca do povo. Se tornou de fácil aceitação algo falado do povo para o povo numa proximidade tão diferente do que era ensinado como poesia. Poesia é arte condensada em versos, intimista e interpretativa. Tão crua, tão bonita, tão pouco democrática. Para Adrian Mitchell (1964), "A maioria das pessoas ignora a maior parte da poesia porque a maior parte da poesia ignora a maioria das pessoas." Muitas vezes inacessível, isso provocou, provocou e despertou a resposta da margem. Cansados de escutar, resolveram falar. Pegaram o slam, mastigaram e cuspiram de volta como o slam que conhecemos. O slam dos que não são ouvidos, mas que vão falar.  No Brasil o Slam foi trazido por poetas como Roberta Estrela D’Alva, ganhando força nos becos e vielas das periferias, tornando-se mais uma forma de resistência e expressão. As batalhas acontecem da seguinte forma: geralmente cada participante tem cerca de três minutos para apresentar poesias autorais, sem objetos cênicos, figurinos ou acompanhamento musical. As apresentações são avaliadas por um júri popular, escolhido aleatoriamente entre os espectadores, permitindo que qualquer pessoa participe como competidor ou jurado. Ao contrário de eventos de poesia tradicionais, as batalhas de Slam atuam como uma forma de contracultura, levando a poesia a espaços não convencionais e permitindo a participação de diversos públicos. Slam é política. É sobrevivência. É arte. É beleza. É voz .  É   o suspiro trêmulo que o poeta dá em meio ao caos que é a vida.  O DVP carinhosamente convida a todos a conhecerem mais do movimento Slam , onde mais e mais surgem grupos coletivos que dão voz a grupos historicamente silenciados.  A poesia salva.  Luisa Corloud Ana Carolina Sant’Anna Referências CULTURA GENIAL. Slam: o que é a poesia falada que está ganhando as ruas. Disponível em: https://www.culturagenial.com/slam/ . Acesso em: 28 nov. 2024. EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, 2003. FREITAS, Daniela Silva de. Slam Resistência: poesia, cidadania e insurgência. Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. 2020, n. 59. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2316-40185915 . Acesso em: 25 nov. 2024. ISSN 2316-4018. LUZ, Igor Gomes Xavier. O que é Slam? Poesia, educação e protesto. PROFS Educação, 12 nov. 2019. Disponível em: https://profseducacao.com.br/artigos/o-que-e-slam-poesia-educacao-e-protesto/ . Acesso em: 26 nov. 2024. MITCHELL, Adrian. Poems. Londres: Jonathan Cape, 1964. NOVA BRASIL. Slam poesia: a voz da resistência e da identidade nas periferias. Disponível em: https://novabrasilfm.com.br/ . Acesso em: 28 nov. 2024. POETRY FOUNDATION. Marc Kelly Smith: fundador do Slam Poetry. Disponível em: https://www.poetryfoundation.org/ . Acesso em: 28 nov. 2024. Desvendando a Poesia. Disponível em: https://www.gpsankofa.com/post/desvendando-a-poesia . Acesso em: 28 nov. 2024.

  • Desvendando Sankofa: Dia da Consciência Negra

    Texto de Ana Carolina Sant’Anna e Beatriz Guarany Arte de   Priscila Vianna Canção  Parece que eu sou Zumbi dos Palmares quando sambo O príncipe herdeiro dos quilombos do Brasil Sou eu, sou eu, Soweto Livre, Mandela é Zumbi que se revive Exemplo pro céu De outros países como o meu  Sou eu, orgulho de Zumbi Que vem de Angola e de Luanda Salve essa nação de Aruanda Salve a mesa posta de umbanda Salve esse Brasil-Zumbi. — BOM GOSTO. 300 Anos. Intérprete: Grupo Bom Gosto. Roda de Samba 2, 2010.  No dia 20 de novembro , o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data que homenageia a luta e o legado de Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo do país, que foi morto em 1695 e se tornou símbolo de resistência contra a escravização. Instituído oficialmente pela Lei nº 12.519/2011, este dia nos convida a refletir sobre a história, a cultura e os desafios enfrentados pela população negra brasileira. Porém, essa reflexão não é apenas sobre o passado. Celebrar a Consciência Negra é ir além da data comemorativa e mergulhar em um processo contínuo de aprendizado, questionamento e resgate de histórias. É compreender que a luta antirracista é um compromisso diário e que a negritude é parte fundamental da identidade brasileira. A palavra "Sankofa" vem da língua Akan , falada por povos de Gana, e pode ser traduzida como "voltar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro". Representada por um pássaro que voa para frente enquanto olha para trás, Sankofa nos convida a revisitar a história, resgatando nossas raízes, aprendendo com as experiências de nossos antepassados, para compreender nossa identidade, e fortalecer as lutas contemporâneas. Palmares , situado na Serra da Barriga , na antiga Capitania de Pernambuco, hoje Alagoas, foi mais que um refúgio: foi um lar para 20 mil pessoas, incluindo africanos escravizados, indígenas e brancos empobrecidos. Era um lugar onde a liberdade se tornava realidade, mesmo em meio a uma sociedade opressora. Esse conceito está no cerne do Grupo de Estudos e Pesquisas Sankofa, que atua como um grito por liberdade intelectual e democratização do acesso à pesquisa. É preciso promover oportunidades para que grupos historicamente impedidos do acesso ao ensino formal aprendam a investigar, produzir conhecimento e sejam reconhecidas por isso. Um dos objetivos do GPSankofa é desafiar o elitismo acadêmico e valorizar as transgressões coletivamente construídas pelas comunidades negras na Diáspora , no passado, presente e futuro.   Ao longo da história, as narrativas sobre a escravização e a contribuição dos povos africanos para a formação do Brasil foram sistematicamente apagadas ou distorcidas. Esse processo, conhecido como epistemicídio , visava legitimar a dominação e o racismo, negando o conhecimento e as experiências de determinados grupos. De acordo com Sueli Carneiro (2005, p.97): “O epistemicídio é, para além da anulação e desqualificação do conhecimento dos povos subjugados, um processo persistente de produção da indigência cultural: pela negação ao acesso à educação, sobretudo de qualidade; pela produção da inferiorização intelectual; pelos diferentes mecanismos de deslegitimação do negro como portador e produtor de conhecimento e de rebaixamento da capacidade cognitiva pela carência material e/ou pelo comprometimento da autoestima pelos processos de discriminação correntes no processo educativo. [...] Por isso o epistemicídio fere de morte a racionalidade do subjugado ou a sequestra, mutila a capacidade de aprender etc.”  Mulheres negras, em particular, têm sido duplamente invisibilizadas, tanto pela condição de gênero quanto pela racialidade. Seus saberes, lutas e contribuições foram sistematicamente silenciados e relegados ao esquecimento. A filósofa bell hooks (2019, p. 284) nos alerta que "na cultura do esquecimento, a memória sozinha não significa nada". Para que essa memória tenha valor, é necessário reconstruir narrativas, romper silenciamentos e dar protagonismo a quem foi historicamente apagado. O Dia da Consciência Negra , portanto, não se limita a uma celebração. Ele é um chamado urgente à reflexão e à ação frente ao racismo que elimina saberes produzidos pelas comunidades negras em diáspora. É uma oportunidade para resgatar e amplificar as vozes negras, tanto na história quanto na academia. Essa mobilização se torna ainda mais relevante diante dos desafios persistentes enfrentados pela população negra no Brasil, como a violência policial, o desemprego, a intolerância religiosa e o contínuo apagamento de sua história e contribuições.  Autoras do texto: Ana Carolina Sant’Anna e Beatriz Guarany Arte de Priscila Vianna REFERÊNCIAS: BOM GOSTO. 300 Anos . Intérprete: Grupo Bom Gosto. Roda de Samba 2, 2010. Disponível em: < https://www.letras.mus.br >. Acesso em: 13 nov. 2024. CARNEIRO, Aparecida Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser . 2005. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005. Disponível em: < https://negrasoulblog.wordpress.com/wp-content/uploads/2016/04/a-construc3a7c3a3o-do-outro-como-nc3a3o-ser-como-fundamento-do-ser-sueli-carneiro-tese1.pdf >. Acesso em: 15 nov. 2024. hooks, bell. Olhares negros: raça e representação /bell hooks; tradução de Stephanie Borges. São Paulo: Elefante, 2019. Disponível em: < https://cpdel.ifcs.ufrj.br/wp-content/uploads/2020/10/bell-hooks-Olhares-Negros.pdf >. Acesso em: 15 nov. 2024. TODA MATÉRIA. Quilombo dos Palmares . Disponível em: < https://www.todamateria.com.br/quilombo-dos-palmares .> Acesso em: 13 nov. 2024.

  • Desvendando a Poesia

    Soneto Pergunto aqui se sou louca Quem quer saberá dizer Pergunto mais, se sou sã E ainda mais, se sou eu Que uso o viés pra amar E finjo fingir que finjo Adorar o fingimento Fingindo que sou fingida Pergunto aqui meus senhores quem é a loura donzela que se chama Ana Cristina E que se diz ser alguém É um fenômeno mor Ou é um lapso sutil? — Ana Cristina Cesar, em “A teus pés”. São Paulo: Brasiliense, 1982. A poesia – do grego poíesis  – foi definida como um impulso para Aristóteles, uma força para Schiller e uma linguagem para Suassuna. Sua construção já foi feita no papiro, na caneta e no computador. Como uma entidade misteriosa, moradora integral do subconsciente do poeta, ela atravessa gerações em sua multiplicidade de formas, passeando entre a elite e a plebe, entre o idealizado e a realidade, entre o dito como certo e o dito como errado. Talvez porque, dentre todas as suas ambiguidades, certezas e definições, a poesia nada mais seja do que humana .  O primeiro movimento que relatou a poesia explicitamente foi o Trovadorismo, iniciado lá no século XI, na Idade Média. Quem diria que o ser-humano acharia em meio a todo trabalho feudal um tempinho para ser poético? Das cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer; o poeta começou a dar nome para o que fazia, desde o bonito até o feio. Mesmo que seus nomes sejam meramente ilustrativos. Amizade e amor não mantiveram seus significados ao longo dos séculos. Escárnio e maldizer, por outro lado , mantiveram sua essência.  A métrica e a lírica atravessaram o trovadorismo e percorreram durante muitos anos por muitas escolas literárias. O Parnasianismo recebeu muito bem as ideias de uma métrica muito bem planejada, mesmo que rejeitando todo o sentimento exposto em outras escolas. Extremamente racionais e apegados à estética, os parnasianistas eram como os primos ricos pomposos que causam inseguranças nos primos menos perfeccionistas.  Já os primos que vieram ao mundo para quebrar estigmas e viverem da arte, claramente, são os modernistas. O modernismo veio como um prelúdio do que viria a ser a quebra de padrões, preparando o terreno ao criar novas maneiras de se expressar de forma artística, buscando na subjetividade o verdadeiro sentido. O Clube dos Cinco da literatura brasileira – Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti – idealizou a Semana da Arte Moderna, e nela questionaram sobre o ser brasileiro em variadas formas de arte, inclusive na poesia.  A poesia como resistência não ganhou espaço, mas ela o adquiriu mesmo assim. Nada recebido de mão beijada, tudo, muito provavelmente, pego à força. A arte e a poesia, em específico, tornou-se “o espaço de expressão e sublimação daquilo que a sociedade burguesa considera ilegal” (Pimenta, 1984). O que de forma nenhuma impediu que a burguesia se apropriasse, novamente , e a transformasse em mercadoria.  “... uma coisa é certa: a liberdade da obra de arte literária implica, em certo grau, a sua inaceitabilidade da parte do poder estabelecido, ou da parte do público, ou, frequentemente ainda, da parte de ambos” (Pimenta, 1976) Então, como feito anteriormente em outras escolas, o poeta juntou seu sangue e lágrimas, criando arte novamente. Mesmo que em meio ao contexto urbano, entre racismo, machismo, LGBTfobia e xenofobia, o poeta se achou em meio a bagunça. A liberdade poética se acentuou na poesia Marginal, na geração do mimeógrafo, onde, num caráter subversivo, se criou uma identidade que abraça a diversidade e a criatividade do poeta. Nos anos 70, as editoras faziam forte pressão à comunidade artística, ditando as regras e padrões da escrita da época. No entanto, os poetas marginais romperam com o que era imposto ao publicar seus textos de maneira independente, utilizando mimeógrafos para realizar as cópias de seus materiais, o que levou à denominação de “geração mimeógrafo”. Hoje, marginal e marginalizada, a poesia nasce em diversos lugares, de diversas formas. Na batalha de  slam , no caderninho surrado de uma aluna da sétima série, no sorriso que a mãe dá para seu filho que soltou suas primeiras palavras, no reconhecer em cada olhar uma história inexplorada.  A poesia é resistência, mas também é descanso. A poesia é o suspiro trêmulo que o poeta dá em meio ao caos que é a vida.  Luisa Corloud Ana Carolina Sant’Anna Referências Bibliográficas AJZENBERG, Elza. A Semana de Arte Moderna de 1922. Revista de Cultura e Extensão USP: 25–29, 2012. BANDEIRA, Manuel. De Poetas e de Poesia. Rio de Janeiro: MEC, 1954. COUTINHO, Afrânio dos Santos. Notas de teoria literária. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015. LUNA, Fernanda. Escolas Literárias. 26 jul. 2019. Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/lingua-portuguesa/escolas-literarias . Acesso em: 14 set. 2024. MARTELO, Rosa Maria. Devagar, a poesia. Documenta, 2022. SOUZA, Warley. Poesia Marginal. 23 abr. 2024. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/amp/literatura/poesia-marginal.htm . Acesso em: 14 set. 2024.

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