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Desvendando a Literatura: a palavra como resistência 


Se a palavra foi usada para doutrinar, também foi usada para libertar. Onde o discurso autoritário se impõe, a literatura floresce — mesmo nas rachaduras de uma sociedade esfacelada.


Não sei você, mas, se pudesse, passaria a vida inteira escrevendo. Porque, de fato, é mais fácil compreender aquilo que nos atinge no mundo que criamos com palavras muito bem organizadas. O que nos fere, nos angustia, nos aprisiona.

 A literatura nunca deixa de contar um pouco de nós; ela sempre tem algo a dizer sobre as mazelas e as belezas do mundo.


“Resistência é um conceito originariamente ético, e não estético.” (BOSI, 1996)

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A resistência, por sua vez, não é uma representação; é uma atitude. Um poderoso “não” lançado sobre os que nos dominam. Fruto de um existencialismo crescente do século XX, a resistência prevê o popular, prevê aqueles que são colocados à margem da sociedade. Contudo, o “não” sequer foi escutado, mesmo na força bruta. É aí que a arte entra: na descrição dessa dor humana, dessa dor popular. A narrativa adquire, a partir daqui, um valor especialmente ético.




 A escrita resistente não apenas repete o que a literatura clássica já nos contou; agora ela reconta, desdobra, cria incômodo, busca no âmago de cada leitor aquela centelha de existencialismo que questiona o que somos e para que viemos, em busca da ação: resistência.


“É nesse sentido que se pode dizer que a narrativa descobre a vida verdadeira, e que esta abraça e transcende a vida real. A literatura, com ser ficção, resiste à mentira. É nesse horizonte que o espaço da literatura, considerado em geral como o lugar da fantasia, pode ser o lugar da verdade mais exigente.” (BOSI, 1996)

A literatura, quando genuína, não abre margem para a passividade. Ela provém de uma necessidade, um direito, de humanizar. Dizem que a arte imita a vida; penso que o contrário é o mais provável. A literatura tem o poder de nos influenciar, de modificar o que nos parece imutável.


As palavras possuem poder. Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Chico Buarque, Ailton Krenak, todos eles mostram que o que se escreve não é meramente estético, que cada palavra abraça a contemporaneidade em sua forma mais pura, em cada vez que levantaram a voz e o “não” foi dito da forma mais bem estruturada possível para aqueles que nos oprimem.


 Ainda mais por isso, caro leitor, jamais deixarei de escrever. Mesmo com os dedos puídos, o peito cansado em angústia. Por mim e por aqueles que não podem escrever, estarei lá. Direi o não à minha maneira. Se nos consumimos em meio a essa sociedade corrompida, eles sentirão as consequências.


“Eu tenho uma mensagem para o presidente Snow — digo.[...]
— Você pode nos torturar e nos bombardear e incendiar nossos distritos até virarem cinzas. Mas vejam só — digo, erguendo os braços para que vejam que continuo viva, que sou mais do que apenas um símbolo. — O fogo é contagioso! Se nós queimarmos, você queimará conosco!”  (COLLINS, 2011, p. 112)

Por: Ana Luísa Corloud


REFERÊNCIAS 


BOSI, Alfredo. Narrativa e resistência. Itinerários–revista de literatura, 1996.

COLLINS, Suzanne. A esperança. Tradução de Alexandre D'Elia. 1. ed. Rio de Janeiro: Rocco, 2011.


MACIEL, Gabriela Carneiro. Literatura como porta-voz da resistência: narrativa e poesia de Carolina de Jesus. Sententia, 2022. Disponível em: https://sententia.com.br/gabrielacarneiromaciel/2022/narrativa-poesia-resistencia-carolina-jesus/. Acesso em: 27 abr. 2025.


COLLINS, A esperança. Rocco Jovens Leitores: Rio de Janeiro, 2011.




 
 
 

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